Faz frio
aqui fora, pensa Brian, frio demais para querer ficar bêbado só de camisa no
bar da esquina.
A realidade
andava estranha naqueles dias de inverno misturado com o inferno dos astros.
Inverno do
inferno, pensava. É o que baiano pensa que rola se você peca.
Riu sozinho
por alguns segundos e pensou em ser roteirista de comédia mesmo sendo um
escritor de quinta categoria que nunca chegou nem perto de publicar alguma
coisa. A não ser a publicação paga de um livro. Proposta que rapidamente ele
recusou desligando o telefone na cara da editora sem resposta alguma. Eles
tentaram contato mais algumas vezes pedindo para ele reconsiderar mas ele nunca
mais respondeu.
A realidade
aparecia estranha como no livro 1Q84 mas o frio continuava real como era em
Londres. Naquele caminho que muitas vezes ele já fez passando pela catedral do
São Paulo, cruzando a ponte do milênio e caindo de cara no Tate moderno.
Preciso
andar, pensou ele. Aproveitar que já tenho quase trinta anos e andar por Moema
inteira, relembrando cada esquina que eu já levei um fora de uma garota, sujei
uma calçada ou estourei uma bomba de 5000 no mês de Junho. Redescobrir aquilo
que eu sempre destruí ou me destruiu. Cai bem.
O Zé
prepara mais uma dose de conhaque levemente aquecido que esquenta o corpo
começando pela parte mais baixa das costas e sobe até as orelha corarem. Mais
quente que qualquer mulher com quem ele já tivesse dormido, menos uma. Mas isso
só vem mais pra frente.
Ele sai
pela rua. Desencana de sentir frio e passa em casa – que fica a uma quadra do
bar que estava bebendo – pega um casaco e começa a andar. Relembra os tempos de
Londres quando saia a passear pela madrugada descobrindo novos antigos lugares.
É o prazer da calmaria noturna de viver a cidade enquanto todo mundo tenta dormir
feliz.
Ele passa
por moema, cruza o parque do ibirapuera pela Avenida República do Líbano, sobe
uma rua aqui e outra ali parando em alguns lugares pra reabastecer a pequena
garrafa de metal com conhaque e acaba na frente do prédio dela.
Ela, pensa
ele, é a razão de quase toda a loucura da minha vida.
Sem saber o
número fala com o porteiro, sonolento e possivelmente tão bêbado quanto ele.
Ele não sabe, não lembra.
É uma
magra, gostosa, bem vestida de peitos grandes, diz Brian.
Ah! Sei,
Pô! É a Patty! Delícia de moradora! Responde pegando o interfone.
Brian pensa
em ficar bravo com o porteiro pela falta de respeito mas deixa de lado.
Realmente Patty é uma delícia de moradora.
Ela dorme
tarde e rapidamente abre a porta depois que ele foi liberado e subiu o
elevador. A casa dela tem uma bagunça particularmente apaixonante.
A porta
abre e Brian para de encarar a porta branca deixando de lado uma trip semi
alucinógena com cores que não existem nesse mundo e frequentam o branco quando
você olha muito tempo para ele.
Que que
você tá fazendo aqui, ela pergunta apoiando a cabeça no braço que estendia-se
para cima segurando a porta.
Tava
bêbado, andando perdido e acabei aqui. Tô pensando demais em você e cansei só
de pensar. Precisava ver, ouvir, falar, pegar e beijar.
A mão
abraça cintura livre do braço levantado e ela desponta um sorriso enquanto os
olhso se fecham. Os peitos encostam-se primeiro pra depois o corpo inteiro
encontrar-se num beijo longo, demorado, sincero e um tanto quanto sentimental.
Tava com
saudade, Patty. Você sabe que eu te amo.
Cala a
boca, seu conquistador barato. Sou apaixonada por você desde que sou pequena.
Você só me usa. Entra, vai. Senta ai e toma um drink comigo. Tô cansada de
ficar sozinha também, ela diz com um sorriso bobo na cara deixando o hálito de
vinho tomar conta do ambiente.
Ele
senta-se e ela senta-se sobre ele, frente a frente, encarando-o enquanto conta
do seu dia e pergunta perguntas supérfluas com os joelhos apoiados ao lado do
seu corpo e a mão na cara, como se o observa-se em busca de alguma verdade ou
sorriso ou palavra que ele entrega aos rios.
O tempo já
passou tanto nessas duas vidas e eles já estiveram lado a lado tantas vezes e
jamais sobrou-lhe hombridade para declarar um amor assim como jamais ela tinha
estado tão mulher como está agora. O rosto lindo continua lindo mas os olhos já
ganharam aquela confiança que ele sempre esperou, que ele sempre quis ver.
Entre alguns
beijos e carinhos eles acabam com uma garrafa de vinho.
Entre
beijos e carinhos eles acordam no dia seguinte sem querer sair da cama.
Sem querer
sair.
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