28.7.13

É o frio.



Faz frio aqui fora, pensa Brian, frio demais para querer ficar bêbado só de camisa no bar da esquina.
A realidade andava estranha naqueles dias de inverno misturado com o inferno dos astros.
Inverno do inferno, pensava. É o que baiano pensa que rola se você peca.
Riu sozinho por alguns segundos e pensou em ser roteirista de comédia mesmo sendo um escritor de quinta categoria que nunca chegou nem perto de publicar alguma coisa. A não ser a publicação paga de um livro. Proposta que rapidamente ele recusou desligando o telefone na cara da editora sem resposta alguma. Eles tentaram contato mais algumas vezes pedindo para ele reconsiderar mas ele nunca mais respondeu.
A realidade aparecia estranha como no livro 1Q84 mas o frio continuava real como era em Londres. Naquele caminho que muitas vezes ele já fez passando pela catedral do São Paulo, cruzando a ponte do milênio e caindo de cara no Tate moderno.
Preciso andar, pensou ele. Aproveitar que já tenho quase trinta anos e andar por Moema inteira, relembrando cada esquina que eu já levei um fora de uma garota, sujei uma calçada ou estourei uma bomba de 5000 no mês de Junho. Redescobrir aquilo que eu sempre destruí ou me destruiu. Cai bem.
O Zé prepara mais uma dose de conhaque levemente aquecido que esquenta o corpo começando pela parte mais baixa das costas e sobe até as orelha corarem. Mais quente que qualquer mulher com quem ele já tivesse dormido, menos uma. Mas isso só vem mais pra frente.
Ele sai pela rua. Desencana de sentir frio e passa em casa – que fica a uma quadra do bar que estava bebendo – pega um casaco e começa a andar. Relembra os tempos de Londres quando saia a passear pela madrugada descobrindo novos antigos lugares. É o prazer da calmaria noturna de viver a cidade enquanto todo mundo tenta dormir feliz.
Ele passa por moema, cruza o parque do ibirapuera pela Avenida República do Líbano, sobe uma rua aqui e outra ali parando em alguns lugares pra reabastecer a pequena garrafa de metal com conhaque e acaba na frente do prédio dela.
Ela, pensa ele, é a razão de quase toda a loucura da minha vida.
Sem saber o número fala com o porteiro, sonolento e possivelmente tão bêbado quanto ele. Ele não sabe, não lembra.
É uma magra, gostosa, bem vestida de peitos grandes, diz Brian.
Ah! Sei, Pô! É a Patty! Delícia de moradora! Responde pegando o interfone.
Brian pensa em ficar bravo com o porteiro pela falta de respeito mas deixa de lado. Realmente Patty é uma delícia de moradora.
Ela dorme tarde e rapidamente abre a porta depois que ele foi liberado e subiu o elevador. A casa dela tem uma bagunça particularmente apaixonante.
A porta abre e Brian para de encarar a porta branca deixando de lado uma trip semi alucinógena com cores que não existem nesse mundo e frequentam o branco quando você olha muito tempo para ele.
Que que você tá fazendo aqui, ela pergunta apoiando a cabeça no braço que estendia-se para cima segurando a porta.
Tava bêbado, andando perdido e acabei aqui. Tô pensando demais em você e cansei só de pensar. Precisava ver, ouvir, falar, pegar e beijar.
A mão abraça cintura livre do braço levantado e ela desponta um sorriso enquanto os olhso se fecham. Os peitos encostam-se primeiro pra depois o corpo inteiro encontrar-se num beijo longo, demorado, sincero e um tanto quanto sentimental.
Tava com saudade, Patty. Você sabe que eu te amo.
Cala a boca, seu conquistador barato. Sou apaixonada por você desde que sou pequena. Você só me usa. Entra, vai. Senta ai e toma um drink comigo. Tô cansada de ficar sozinha também, ela diz com um sorriso bobo na cara deixando o hálito de vinho tomar conta do ambiente.
Ele senta-se e ela senta-se sobre ele, frente a frente, encarando-o enquanto conta do seu dia e pergunta perguntas supérfluas com os joelhos apoiados ao lado do seu corpo e a mão na cara, como se o observa-se em busca de alguma verdade ou sorriso ou palavra que ele entrega aos rios.
O tempo já passou tanto nessas duas vidas e eles já estiveram lado a lado tantas vezes e jamais sobrou-lhe hombridade para declarar um amor assim como jamais ela tinha estado tão mulher como está agora. O rosto lindo continua lindo mas os olhos já ganharam aquela confiança que ele sempre esperou, que ele sempre quis ver.
Entre alguns beijos e carinhos eles acabam com uma garrafa de vinho.
Entre beijos e carinhos eles acordam no dia seguinte sem querer sair da cama.
Sem querer sair.



Um comentário:

Anônimo disse...

like it - R.