Não é uma obrigação.
Não que não devesse ser, mas escrever não é uma
obrigação. Talvez se fosse eu já estaria com algumas dezenas de milhares na
minha conta mas como eu vejo a escrita como um hobby – tipo sexo – faço o possível
para não ganhar dinheiro com isso. Entenda da seguinte maneira:
Se
você fosse um ator pornô, ainda teria o mesmo paazer em seduzir uma mulher para
levá-la para a cama ou não aguentaria mais por que já viu demais “daquilo” no
seu trabalho?
Se você trabalhasse no Mc donalds ainda comeria
lá? Entende?
Talvez
se fosse uma obrigação eu já teria escrito o maior best seller dessa geração
mas estaria a pagar noites e noites de psicanálise com alguma mulher muito
sensual que eu faria questão de transar simplesmente por que não aguentaria chegar
em casa e escrever uma linha honesta que fosse. Danem-se as vírgulas e o bom
português. Se eu fizesse o que eu amo talvez fosse infeliz!
Essa é uma puta de uma discussão
ego-filosófica.
Não
escrevo por ser uma obrigação mas por ser uma necessidade. Mesmo tendo uma mesa
defronte a uma janela e pouco abrigo para as mãos, escrevo agora com os dedos
congelando, a janela aberta e muito vento a castigar um peito coberto por
malhas e mais malhas de lã. E ainda algumas mulheres pensam que escritores são
figuras sensuais a escrever com copos de conhaque ao lado e um jaleco cheio de
estilo durante o inverno, olhando para a janela e “sentindo” esse vento que o
castiga como as mulheres sem coração da sua vida já o fizeram. Ou então no calor
extremo do verão bebericam seus Mojitos com as regatas brancas e suas cuecas
boxers sempre tão limpas a pensar que o sol lhe faz feliz assim como aquela
mulher já o fez antes do inverno chegar e o calor do abraço transformar-se no
simples e puro açoite do vento gélido.
Não.
A vida de um escritor está longe dessa visão
bucólica de poetas a morrer de tuberculose na beira de rios nos velhos e bons
tempos dos poemas brasileiros. A vida de um escritor está mais para o simples e
puro desespero dos loucos do asilo ou na pura idiotice e ignorância dos velhos
do retiro. Estamos a sofrer da forma mais mundana possível, a sentir o frio
apenas como frio e o sol apenas como sol e as mulheres, essas não, essas
sentimos como elas devem ser sentidas em todo o seu máximo de dor e sofrimento
e dicotomia entre a alegria plena quase milagorsa e a tristeza plena onde as
pernas queimam já inseridas no fogo do inferno.
Não
vejo um futuro e nunca vislumbrei minha vida após a primeira noite sofrendo por
uma mulher. Descobri ali a minha verdade a a minha sina. Sempre sofrer e usar
desse sofrimento como verdade eterna. Bebo na alegria como assim caminho na
felicidade. Admiro o mundo, as pessoas, os dias e as noites mas apenas o faço
para poder seduzir a próxima mulher a qual eu farei 100% feliz e ela me fara 100%
miserável. Meu alimento mundano é a satisfação do ser superior a mim. Assim
como um vassalo entrego meus serviços a qualquer vampira que deseje sugar de
mim todos os prazeres que eu possa oferecer assim como o amor que terei
eternamente por ela e saia mais forte, mais mulher, mais inteira enquanto eu
debato-me mais uma vez por copos e amizades e novas mulher na busca mais uma
vez daquela que esteja pronta para entregar-se ao êcstase que posso oferecer
pela simples troca de um sofrimento real e profundo que dê sentido à felicidade
e liberdade que é a minha vida.
Sofro
por que é de lá que me vem a alegria de buscar um novo sofrimento.
Sofro
por saber que essa doação que faço de mim mesmo eleva aquele ser já superior
mas perdido em tudo que lhe consome como sociedade, cultura e próprios
sentimentos a lhe tapar a visão de como é simples a vida para aqueles corpos
rodados, redondos e salientes.
Não
se bebe sem um amor.
Uma garrafa nunca seca assim como a perna nunca
queima se você não possuir um amor a ser esquecido. É o esquecimento daquilo
que te consome que te leva adiante, para frente e avante (Rá!) o mais rápido
possível para que você deixe toda a dor e toda aquela babaquice que um dia você
chamou de amor no buraco escuro do esquecimento. E nessa caminhada, nessa busca
pelo lugar mais distante daquilo que um dia você já esteve, BAM! Você encontra
novamente aquilo que vai lhe derrubar mais uma vez. O eterno confronto do homem
que busca sempre fazer de todas as mulheres da sua vida a única.
E
depois de um tempo, depois de passar anos autodestruindo-se por tudo o que você
já viveu, você abre os olhos como um zumbi e caminha pelo mundo sem nunca mais
pensar em fazer uma mulher feliz. Esquece a felicidade e o sofrimento e no
piloto automático da vida caminha brincando e jogando com sentimentos alheios
sem mais possuir um próprio e, vejam lá, chama isso de crescimento, de
amadurecimento.
Bullshit.
Vamos chamar isso de medo e vamos deixar esse
medo de lado e bater na porta daquela moça que vive naquele apartamento tão bagunçado
quanto o seu “eu” e vamos nos machucar novamente. Não quero a eternidade e
talvez já pense em começar o que eu tenho certeza que tem um fim esperando que
você seja aquela mulher verdadeira que quando eu surtar nas minhas bebedeiras e
besteiras a esperar que você me deixe, pegue minha mão, me coloque no colo e
diga
-
“Shhhh,
eu te amo também. De verdade.”
Eu e você, moça do apartamento bagunçado, somos
como esse conto que eu acho que deveria terminar por aqui mas não acaba por que
eu não consigo ver um final assim tão simples e tão óbvio.
E ai depois de muito tempo num silêncio
extremamente inapropriado eu
coloco aquele som que a gente nunca ouviu por que sempre estamos a discutir
nosso passado e nossa relação e em como eu já te machuquei e como você nunca
percebeu as sutilezas do meu amor mesmo nas atitutdes menos cabíveis de amor
como palavras duras e silêncios inexpressivos. Eu que sempre esperei que você
fosse aquela mulher que em toda essa minha revolta pessoal e silênciosa pegasse
em minhã mão e dissesse baixinho no meu ouvido:
-
“Shhhh,
eu te amo também. De verdade.”
Mas não, você nunca disse e eu também nunca lhe
joguei na parede com força suficiente para fazer você esquecer esse homem do
amor eterno e escondido que sou e lembrar simplesmente que sou homem e lhe amo
ao ponto de ser violento, mulher desse apartamento bagunçado que um dia ainda
hei de arrumar como irei arrumar-nos.
Existem tantos erros nessas palavras como
existem atitudes erradas entre nós. Agora que jogo o jogo da verdade e você
coloca de lado a sinceridade, eu fico aqui ouvindo músicas que quase me levam a
rimas embraçosas. “Jogo o jogo da verdade e você coloca de lado a sinceridade”.
Me diga o quanto piegas é isso, o quanto Clarisse Falcão ou “a melhor banda da
cidade” é isso!? Sinto-me perfeitamente encaixado no extremo absurdo do que é
estar ao seu lado e um dia, num almoço de família, que já conheço a mais tempo
do que a sua vida, levante, bata no copo com o talher sujo de qualquer comida e
diga para todas as famílias
-
Essa
é a minha namorada.
E você em toda a sua incorência e vergonha que
lhe cabe tão bem nesse corpo alto e esbelto com esses seios que você insistiu
em melhorar me puxe pelo braço após os sons de espanto e aprovações e diga
baixinho no meu ouvido só pra me fazer parar de tremer
-
“Shhhh,
eu te amo também. De verdade.”
E ai na segunda música eu lembro quem eu sou e
guardo esse “eu” que fala tanto de alguém pra procurar qualquer vagabunda que
me silencie e faça eu esquecer que não exite amor em São Paulo nem em lugar
algum.
Talvez só entre eu e você.
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