14.8.13

entre mim e ti.

-->


Não é uma obrigação.
Não que não devesse ser, mas escrever não é uma obrigação. Talvez se fosse eu já estaria com algumas dezenas de milhares na minha conta mas como eu vejo a escrita como um hobby – tipo sexo – faço o possível para não ganhar dinheiro com isso. Entenda da seguinte maneira:
 Se você fosse um ator pornô, ainda teria o mesmo paazer em seduzir uma mulher para levá-la para a cama ou não aguentaria mais por que já viu demais “daquilo” no seu trabalho?
Se você trabalhasse no Mc donalds ainda comeria lá? Entende?
            Talvez se fosse uma obrigação eu já teria escrito o maior best seller dessa geração mas estaria a pagar noites e noites de psicanálise com alguma mulher muito sensual que eu faria questão de transar simplesmente por que não aguentaria chegar em casa e escrever uma linha honesta que fosse. Danem-se as vírgulas e o bom português. Se eu fizesse o que eu amo talvez fosse infeliz!
Essa é uma puta de uma discussão ego-filosófica.
            Não escrevo por ser uma obrigação mas por ser uma necessidade. Mesmo tendo uma mesa defronte a uma janela e pouco abrigo para as mãos, escrevo agora com os dedos congelando, a janela aberta e muito vento a castigar um peito coberto por malhas e mais malhas de lã. E ainda algumas mulheres pensam que escritores são figuras sensuais a escrever com copos de conhaque ao lado e um jaleco cheio de estilo durante o inverno, olhando para a janela e “sentindo” esse vento que o castiga como as mulheres sem coração da sua vida já o fizeram. Ou então no calor extremo do verão bebericam seus Mojitos com as regatas brancas e suas cuecas boxers sempre tão limpas a pensar que o sol lhe faz feliz assim como aquela mulher já o fez antes do inverno chegar e o calor do abraço transformar-se no simples e puro açoite do vento gélido.
            Não.
A vida de um escritor está longe dessa visão bucólica de poetas a morrer de tuberculose na beira de rios nos velhos e bons tempos dos poemas brasileiros. A vida de um escritor está mais para o simples e puro desespero dos loucos do asilo ou na pura idiotice e ignorância dos velhos do retiro. Estamos a sofrer da forma mais mundana possível, a sentir o frio apenas como frio e o sol apenas como sol e as mulheres, essas não, essas sentimos como elas devem ser sentidas em todo o seu máximo de dor e sofrimento e dicotomia entre a alegria plena quase milagorsa e a tristeza plena onde as pernas queimam já inseridas no fogo do inferno.
            Não vejo um futuro e nunca vislumbrei minha vida após a primeira noite sofrendo por uma mulher. Descobri ali a minha verdade a a minha sina. Sempre sofrer e usar desse sofrimento como verdade eterna. Bebo na alegria como assim caminho na felicidade. Admiro o mundo, as pessoas, os dias e as noites mas apenas o faço para poder seduzir a próxima mulher a qual eu farei 100% feliz e ela me fara 100% miserável. Meu alimento mundano é a satisfação do ser superior a mim. Assim como um vassalo entrego meus serviços a qualquer vampira que deseje sugar de mim todos os prazeres que eu possa oferecer assim como o amor que terei eternamente por ela e saia mais forte, mais mulher, mais inteira enquanto eu debato-me mais uma vez por copos e amizades e novas mulher na busca mais uma vez daquela que esteja pronta para entregar-se ao êcstase que posso oferecer pela simples troca de um sofrimento real e profundo que dê sentido à felicidade e liberdade que é a minha vida.
            Sofro por que é de lá que me vem a alegria de buscar um novo sofrimento.
            Sofro por saber que essa doação que faço de mim mesmo eleva aquele ser já superior mas perdido em tudo que lhe consome como sociedade, cultura e próprios sentimentos a lhe tapar a visão de como é simples a vida para aqueles corpos rodados, redondos e salientes.
            Não se bebe sem um amor.
Uma garrafa nunca seca assim como a perna nunca queima se você não possuir um amor a ser esquecido. É o esquecimento daquilo que te consome que te leva adiante, para frente e avante (Rá!) o mais rápido possível para que você deixe toda a dor e toda aquela babaquice que um dia você chamou de amor no buraco escuro do esquecimento. E nessa caminhada, nessa busca pelo lugar mais distante daquilo que um dia você já esteve, BAM! Você encontra novamente aquilo que vai lhe derrubar mais uma vez. O eterno confronto do homem que busca sempre fazer de todas as mulheres da sua vida a única.
            E depois de um tempo, depois de passar anos autodestruindo-se por tudo o que você já viveu, você abre os olhos como um zumbi e caminha pelo mundo sem nunca mais pensar em fazer uma mulher feliz. Esquece a felicidade e o sofrimento e no piloto automático da vida caminha brincando e jogando com sentimentos alheios sem mais possuir um próprio e, vejam lá, chama isso de crescimento, de amadurecimento.
Bullshit.
Vamos chamar isso de medo e vamos deixar esse medo de lado e bater na porta daquela moça que vive naquele apartamento tão bagunçado quanto o seu “eu” e vamos nos machucar novamente. Não quero a eternidade e talvez já pense em começar o que eu tenho certeza que tem um fim esperando que você seja aquela mulher verdadeira que quando eu surtar nas minhas bebedeiras e besteiras a esperar que você me deixe, pegue minha mão, me coloque no colo e diga
-       “Shhhh, eu te amo também. De verdade.”
Eu e você, moça do apartamento bagunçado, somos como esse conto que eu acho que deveria terminar por aqui mas não acaba por que eu não consigo ver um final assim tão simples e tão óbvio.
E ai depois de muito tempo num silêncio extremamente  inapropriado eu coloco aquele som que a gente nunca ouviu por que sempre estamos a discutir nosso passado e nossa relação e em como eu já te machuquei e como você nunca percebeu as sutilezas do meu amor mesmo nas atitutdes menos cabíveis de amor como palavras duras e silêncios inexpressivos. Eu que sempre esperei que você fosse aquela mulher que em toda essa minha revolta pessoal e silênciosa pegasse em minhã mão e dissesse baixinho no meu ouvido:
-       “Shhhh, eu te amo também. De verdade.”
Mas não, você nunca disse e eu também nunca lhe joguei na parede com força suficiente para fazer você esquecer esse homem do amor eterno e escondido que sou e lembrar simplesmente que sou homem e lhe amo ao ponto de ser violento, mulher desse apartamento bagunçado que um dia ainda hei de arrumar como irei arrumar-nos.
Existem tantos erros nessas palavras como existem atitudes erradas entre nós. Agora que jogo o jogo da verdade e você coloca de lado a sinceridade, eu fico aqui ouvindo músicas que quase me levam a rimas embraçosas. “Jogo o jogo da verdade e você coloca de lado a sinceridade”. Me diga o quanto piegas é isso, o quanto Clarisse Falcão ou “a melhor banda da cidade” é isso!? Sinto-me perfeitamente encaixado no extremo absurdo do que é estar ao seu lado e um dia, num almoço de família, que já conheço a mais tempo do que a sua vida, levante, bata no copo com o talher sujo de qualquer comida e diga para todas as famílias
-       Essa é a minha namorada.
E você em toda a sua incorência e vergonha que lhe cabe tão bem nesse corpo alto e esbelto com esses seios que você insistiu em melhorar me puxe pelo braço após os sons de espanto e aprovações e diga baixinho no meu ouvido só pra me fazer parar de tremer
-       “Shhhh, eu te amo também. De verdade.”
E ai na segunda música eu lembro quem eu sou e guardo esse “eu” que fala tanto de alguém pra procurar qualquer vagabunda que me silencie e faça eu esquecer que não exite amor em São Paulo nem em lugar algum.
Talvez só entre eu e você.

           

Nenhum comentário: