E lá
estávamos nós.
Sentados na
beira de um mundo que não existe, olhando para um horizonte que ninguém mais
vê.
Pouco
falávamos mas imaginávamos as mesmas coisas naquela simples e pura sintonia de
quem já se conhece faz tempo.
Nos
conhecíamos fazia tão pouco tempo. Não tivemos nenhum encontro, poucos abraços
mais longos, nenhum momento de rubor. Nos encontrávamos já como melhores amigos
de algumas gerações, Como se rodássemos mais rápido que o mundo entre encontros
e desencontros.
Talvez
nosso primeiro contato tenha sido no Egito. Você rainha, eu plebeu a ser
açoitado enquanto você observava do topo da Esfinge um mundo que ainda não lhe
pertencia, apesar de todos dizerem o contrário. Um açoite mais forte do
carrasco, uma lágrima que escorre do seu olho quando nossos olhares se
encontram e lá estava a conexão formada por uma eternidade. A dor simultânea de
dois humanos socialmente disparates. Talvez ali tenha começado o traçado que
vai nos levar – será que nesse momento, será que nessa beira de mundo que não existe
– para aquela frase tão mal utilizada nos dias de hoje.
Depois vem
a Grécia antiga e continuamos nessa triste linha perpendicular do infininto que
se cruza num único ponto/momento do universo, mas na infinidade que é um ponto
jamais poderemos definir isso em anos ou dias ou meses ou até mesmo olhares.
Continuamos, agora de batas brancas, você a recolher água de uma bica límpida
com os seios quase à mostra e eu artista de rua em busca de uma inspiração para
alguma piração que fizesse sentido aos meus estudos. Trocamos um olhar rápido e
um sorriso e nunca mais nos vemos na imensidão que cerca o Pantheon. Talvez ali
tenha começado um singelo sentido de alguma felicidade sem explicação e para
aquele sempre sozinha.
E vamos
passando pelas fases do mundo, trocando essa matéria quântica que exalamos na
nossa morte e que depois transforma-se em vida novamente sempre buscando o que
talvez não seja uma linha perpendicular mas sim uma espiral que há de unir-se
no final das contas para tornar-se apenas uma coisa só. Rodamos o
impressionismo onde pintei nua a modelo que arrancou de mim toda a vontade de
qualquer outro amor, trocamos carta nas duas guerras que depois vieram,
sentamos lado a lado no primeiro cinema, andamos juntos no primeiro avião,
dançamos a valsa quando pensaram que a música já havia parado.
Sobrevivemos
ao Titanic, cada um correndo para um lado, para um continente distante e por
aquilo que me passa na memória até tocamos nossas mãos enquanto o barco
quebrava e você assumia seu lugar de vida salva.
Vivemos e
viveremos dos encontros e desencontros mas finalmente, nessa beira de mundo que
não existe, estamos mais próximos do que nunca estivemos. Seguro sua mão
apoiada no joelho, olho nos seus olhos e dou um sorriso.
O mundo
começa a fazer mais sentido agora. Não preciso lhe conhecer por que eu já lhe
sei, por que de toda a eternidade até essa paisagem que nós imaginamos nós já
viemos nos conhecendo. De forma devagar e espontânea, por entre lágrimas e
olhares, por leves toques e esbarrões despreocupados nos trens lotados de
Londres cada um em busca do seu próprio ser, por incertezas do Deja Vù
constante de “eu sei quem você é, mas não te conheço”.
Sinto seu
cheiro doce de mistura de frutas e penso que lhe amo.
Em voz alta
você responde:
“Eu também.”
Um comentário:
eu fiz um blog. http://amargalice.blogspot.com.br/
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